Tecno-peixe

quinta-feira, 9 de abril de 2009


Você sabia que bacalhau, como espécie, não existe? É verdade. Assim com não existe bacalhau fresco. O bacalhau é um peixe que, ao passar pelo processo de salga, transforma-se em bacalhau. São cinco as espécies de peixes que 'tornam-se' bacalhau depois do referido processo: ling, cod, zarbo, macrocefalus e gadus morhua. Google se você acha que inventei esses nomes. O assunto está bem explicadinho em tema da coluna mensal do Alex Atala na edição de 65 da revista Prazeres da Mesa, de novembro do ano passado.


(Peixe da espécie gadus morhua, que gera o bacalhau mais nobre)

Existem três grandes espécies de peixes que geram o bacalhau pelo mundo, conforme a região marítima:

- Bacalhau do Atlântico: gadus morhua
- Bacalhau do Pacífico: gadus macrocephalus
- Bacalhau da Groelândia: gadus ogac

A não ser por uma única citação no Google, da qual desconfio, além de tudo, porque classifica o abrocha como peixe de água doce, não achei nada, tampouco em dicionários - físicos e onlines - e tampouco nos meus guias de ingredientes, qualquer referência que fosse ao abrocha.
Afinal, que peixe é esse? Será mesmo o nosso proto-bacalhau, a única espécie com potencial de se transformar em bacalhau?


Não entendo quase nada de peixes - de água doce ou salgada. Mas com uma costa tão extensa quanto a que temos no Brasil - são 4,5 milhões de Km2 as águas sob a jurisdição brasileira -, será mesmo que não há peixe algum capaz de se fazer bacalhau?

De forma que este é um post em mar aberto, à espera de um peixe que o preencha. Um peixe específico que, se não é o almejado bacalhau de nobre carne que vem da Noruega, que venha do Atlântico imenso que nos banha, deitados que estamos em berço esplêndido.


E, só para constar, bacallau, em espanhol, é uma gíria para tecno, música eletrônica, batida, beat, gerada a partir da ilha-mãe de todos os sons eletrônicos, Ibiza. Por que? Sei lá! Tem a ver, talvez, com o fato de a música eletrônica, por si mesma, não existir como tal. Para ser, o tecno tem que passar por um processo de transformação. Assim como o bacalhau que, sozinho, não é. Entendeu? Nem eu.

Mas tudo isso tem a ver com a data, com a Páscoa. Tradicionalmente, o bacalhau é o prato da Quaresma, em substituição a proibitiva carne. Antes, né, porque agora tudo é permitido. Em tempos de antanho, não só não se comia carne durante toda a quaresma como era um sacrilégio sequer pensar em consumi-la às quintas e sextas-feiras santas.


Agora, a brecha do feriado serve mesmo é para promover churrascos. Mas também antes o bacalhau era acessível. E eu me lembro bem que postas de bacalhau eram vendidas no armazém (sim, um só) da minha cidade. E não eram tão caros assim, ainda que viessem do exterior.

De repente, o bacalhau virou item de luxo, inacessível, e ficamos com as sardinhas (nada contra, adoro!). Então, seria de bom gosto, inclusive, encontrar um peixe que se prestasse ao papel de bacalhau nacional. E, se você não encontrar bacalhau importado e muito menos nacional, afunde-se em peixe local como o lambari mesmo. É gostoso, barato e está logo aí, no riozinho do fundo de casa.

Comments

2 Responses to “Tecno-peixe”
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Anônimo disse...

Aqui em Floripa come-se muito o abrotea (urophycis brasiliensis) como o "bacalhau manezinho". É uma carne bem firme e que se solta em lascas, como o atum e o salmão. Fica sensacional com champignon de paris e alcaparras, mas só vi fresco até hoje. É baratinho, bem que dava um bom bacalhau mesmo!

13 de junho de 2009 às 12:04
Redneck disse...

Klauss, lembra que eu falei que você acabaria acrescentando informações? É justamente disso que falo: eu não estou na cozinha diária de Floripa, de Belém ou de Salvador. E, se ninguém fala nada, muitas vezes eu (e você e outros) nunca ficaremos sabendo de algo peculiar a cada uma de nossas cidades. Pois eu tomo a liberdade de puxar a sardinha (o abrotea, no caso) e fazer um post sobre esse peixe. Faz tempo que eu não escrevo sobre peixe no blog. Isso é terroiroir, na minha opinião: a informação vinda diretamente da fonte, por quem conhece, viu e comeu. Abraço!

16 de junho de 2009 às 01:31