Na cozinha, como em qualquer outro contexto, o que é clássico hoje foi vanguarda um dia. Também foi inovador, diferente, estranho. Agora, são águas passadas e favas contadas. Mas, como algum procedimento, técnica, gosto e modus operandi passa da condição de experimento para uma rotina aceita e praticada sem que se dê por isso?
Um bom exemplo recente da forma como as coisas se inscrevem na história é o livro "Léxico Científico-Gastronômico" - Alícia & elBullitaller - Editora Senac São Paulo - 245 páginas, que esmiuça conceitos bastante específicos praticados pelo chef espanhol Ferran Adriá e sua trupe nos laboratórios do ell Bulli.
A Alícia é uma fundação de pesquisa científica na área de gastronomia da Catalunha (Espanha) e o elBullitaller é o laboratório gastronômico ligado ao restaurante elBulli, de Adriá. Mais do que um livro, é, como o nome o indica, um léxico feito para que o público - especializado ou não - compreenda os processos científicos e tecnológicos que Adriá e equipe inventaram a partir de experimentações que usam a física, a química e outras alquimias na desconstrução da comida tradicionalmente aceita.
O "Léxico" tem mais de 400 verbetes com definições e indicações de aplicação prática de aditivos e outros produtos que podem ser usados na indústria alimentícia e em restaurantes. São, à primeira vista, conceitos estranhos ao corpo da cozinha como espumas, gaseificados, cilindros e outras tantas tecnologias que, mais facilmente, poderiam ser encontradas em modernos centros de desenvolvimento da indústria de ponta.
Mas, assim como a dança, a pintura e a música chegaram a processos distintos de desconstrução, também a gastronomia atinge, em Adriá, um nível de desconstrução obtido graças e por causa de nomes como Carême e Escoffier. Sem essas pessoas, não haveria esse centro catalão de onde tem sido disseminadas ideias e novidades que têm influenciado toda uma geração de chefs em todo o mundo. É o mundo que se desloca do lugar-comum para dar lugar a outras perspectivas. Contudo, há que se dominar os clássicos. Ou não há modernismos que se sustentem, muito menos à base de espumas.
Comments
No response to “The book is under the table”
Post a Comment | Postar comentários (Atom)
Postar um comentário