"É sopa", dizemos, quando temos que fazer algo fácil ou se dominamos determinado assunto, tema ou atividade. É assim desde sempre, quando um frade pobre, em peregrinação, chegou a uma casa e, envergonhado por ter de pedir comida, solicitou aos moradores que lhe emprestassem uma panela para preparar uma sopa de pedra.
Do bornal (ou mucuta ou, em termos atuais, mochila), tirou uma pedra lisa e bem limpa. Os moradores da casa ficaram curiosos e convidaram o frade para entrar na cozinha. Cederam-lhe uma panela. O frade, calmamente, colocou a panela sobre o fogão, apenas com a pedra e disse que precisava temperar a sopa.
A dona da casa lhe cedeu sal e ele sugeriu que um bocadinho de toucinho não ia mal. E começou a mexer a pedra com o toucinho. Mencionou, de passagem, que a sopa ficaria melhor se pudesse ser encorpada, talvez, com batatas, feijão ou qualquer outro ingrediente que lhe desse consistência. Isso feito, tornou a mexer na sopa.
Achou que a sopa estava um tanto descolorida e os donos prontamente lhe deram couve, cenoura, um pedaço de carne curtido e algumas ervas. A mulher sugeriu que se colocasse pimenta. Rapidamente, dois dentes de alho apareceram. O cheiro subia lentamente e o dono da casa achou que ficaria melhor se adicionassem uma beterraba, quem sabe um pequeno pedaço de carneiro da sobra do almoço. Quando tudo estava cozido, a sopa apresentava-se espessa e fumegante.
Os três - o frade, a senhora e o proprietário - sentaram-se e tomaram a sopa devagar, com o viscoso caldo a lhes descer bem no clima úmido. Terminada a refeição, acrescida de grossas fatias de pão feito em casa, o fradeu pediu licença e recolheu da panela a pedra. Lentamente, lavou a pedra, secou e guardou no bornal.
Assim como se faz do limão uma limonada, se faz de pedra uma sopa. É um prato importante na gastronomia mundial. Em geral, é feito com ingredientes de alto valor calórico porque, procura-se, com a sopa, obter calor. Embora as haja, as sopas, também em versão fria como as espanholas (gazpacho) ou as francesas (vichyssoise).
A sopa é rápida e não requer prática de cozinha. Basta se colocar vegetais (cebola, batata, couve, cenoura, abóbora), tempero (sal, pimenta-do-reino, ervas aromáticas) e um ingrediente protéico (carne, peixe, frutos do mar ou frango)! Cozinhe por algum tempo, ao tempo de sua consciência, que, oxalá, lhe recomende em boa medida o que é melhor para si e, voilà!O jantar está servido.
Em tempos outonais como os de São Paulo, atualmente, em que o frio começa a se manifestar com alguma intensidade, nada pode ser mais apreciado do que uma boa sopa. São Paulo tem o caloroso e saboroso costume de começar, nesta época, uma oferta bastante ampla de sopas. Eu recomendo. Assim como defendo que se façam sopas em casa, com todas aquelas aparentes sobras de geladeira.
Mas, a melhor sopa, para mim, é a de mandioca com costela bovina. Primeiro, você cozinha as costelas (pode ser músculo também) na pressão. Quando estiver macia, junte a mandioca (brava, de preferência), e cozinhe por mais uns 15/20 minutos, ainda na pressão. Depois, quando tudo estiver macio, adicione o tempero à vontade e cozinhe por mais algum tempo até que o calor e o aroma lhe façam saber que tudo está no ponto. É de lamber os beiços. A pedra? No meio do caminho tinha uma pedra. E sempre terá, não é?
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