Vinde ao vinho e verás a verdade!

quarta-feira, 19 de novembro de 2008


O domínio da técnica e o terreiro (digo, terroir) perfeito para a produção de uvas (castas) determina a qualidade do vinho. Mas, há algumas ferramentas que podem impulsionar o mercado de vinhos de um país como o Brasil, que não é conhecido, exatamente, pelos vinhos que produz.


(Vinhos da Vinícola Miolo, que produz a partir das regiões do Vale dos Vinhedos, Campanha, Campos de Cima da Serra e Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul, e do Vale do São Francisco, na Bahia)

A tradição, antes mesmo da técnica e da qualidade das vinhas, é o primeiro passo para que uma região torne-se conhecida e respeitada pela produção da bebida dos deuses. O Brasil tem pouca tradição e, atualmente, está no que a Embrapa classifica de 4ª. geração.

Sucessivamente, os períodos evolutivos da vitivinicultura brasileira ocorrem durante os últimos 140 anos, a partir de 1870. As gerações de vinho brasileiras podem ser descritas da seguinte forma:

- Vinhos de 1ª. Geração: "Vinhos de Americanas" (implantação da vitivinicultura no Brasil - de 1870 a 1920)
- Vinhos de 2ª. Geração: "Vinhos de híbridos e de viníferas" (diversificação de produtos - de 1930 a 1960)
- Vinhos de 3ª. Geração: "Vinhos Varietais" (incremento da qualidade - de 1970 a 1990)
- Vinhos de 4ª. Geração: "Vinhos de Qualidade" (produzidos em regiões determinadas - anos 2000).


(Vitis vinifera brasileira)

Os "Vinhos de 3ª. Geração consolidaram-se a partir dos anos 70 com um significativo aumento da superfície cultivada com uvas de Vitis vinifera (a espécie de uva mais usada para a fabricação de vinho), destinadas à elaboração de vinhos finos. As variedades viníferas de origem francesa - Cabernet Franc, Merlot, Chardonnay - ganharam espaço em detrimento de algumas uvas de origem italiana - Barbera, Bonarda, Sangiovese.


(Cave no Vale dos Vinhedos)

A indústria vinícola começou a implantar vinhedos com uvas viníferas e, com a chegada de empresas estrangeiras, realizou transformações importantes de modernização e investimentos: transporte de uvas em caixas plásticas, vinícolas, equipamentos e tecnologias de vinificação. Essas transformações estabeleceram um novo referencial de qualidade para os vinhos brasileiros.

Com a abertura comercial brasileira a partir dos anos 90, o consumidor passou a ser estimulado com a presença de vinhos importados no mercado nacional. Aumentaram as opções de consumo de produtos diferenciados em termos de marcas, variedades e denominações de origem (DOC ou AOC). O mercado tornou-se mais competitivo para os vinhos brasileiros.


(Tonéis do Vale dos Vinhedos)

Essa mudança estimulou os vitivinicultores brasileiros a agregarem novos elementos de qualidade aos vinhos nacionais. A principal iniciativa visa a implantação de indicações geográficas, com a produção de vinhos de qualidade produzidos em regiões determinadas, como uma alternativa para o aumento da competitividade do vinho brasileiro.

Isso se tornou concreto, de fato, a partir da Lei nº 9.279 - "Lei de Propriedade Industrial", de 14 de maio de 1996. Com a lei, pela primeira vez o Brasil contemplou a possibilidade da proteção legal das indicações geográficas para seus produtos vitivinícolas e, igualmente, para outros produtos da agropecuária e da agroindústria nacional.

(Vale dos Vinhedos, Rio Grande do Sul)

De acordo com a lei, considera-se Indicação de Procedência (IP) o nome geográfico - do país, da cidade, da região ou da localidade do seu território -, que se tenha tornado conhecido como centro de extração, produção ou fabricação de determinado produto ou de prestação de determinado serviço. Já na Denominação de Origem (DO), o nome geográfico designa produto ou serviço cujas qualidades ou características se devam exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico, inclusive no que se refere aos fatores naturais e humanos.

Em 22 de novembro de 2002, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, assinou o Registro de Indicação Geográfica n°. IG 200002, que reconhece a denominação "Vale dos Vinhedos" como Indicação Geográfica (espécie da Indicação Geográfica: Indicação de Procedência) para vinhos tintos, brancos e espumantes. Tal reconhecimento se deu com base na Lei n°. 9.279 e na Resolução n°. 075/2000 do INPI, de 28.11.2000, que estabelece as condições para registro das indicações geográficas. Esse fato histórico assinalou o reconhecimento da primeira Indicação Geográfica brasileira e marca a entrada do Brasil no círculo mundial das Indicações Geográficas.


(Vale dos Vinhedos, Rio Grande do Sul)

Essa indicação geográfica tem como titular a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), que abriga o Conselho Regulador da Indicação Geográfica. A IP Vale dos Vinhedos incorpora 12 inovações até então não-presentes na lei de produção de vinhos brasileiros, que incluem:

- Área geográfica de produção delimitada;
- Conjunto de cultivares autorizadas, todas da espécie Vitis vinifera L.;
- Conjunto restritivo de produtos vinícolas autorizados;
- Limite de produtividade máxima por hectare;
- Padrões de identidade e qualidade química e sensorial mais restritivos, com aprovação obrigatória dos vinhos por um grupo de expertos em degustação;
- Elaboração, envelhecimento e engarrafamento na área delimitada;
- Sinal distintivo para o consumidor, por meio de normas específicas de rotulagem;
- Conselho Regulador de autocontrole.


(Vinhos da Vinícola Aurora, que produz a partir da região da Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul)

A qualificação e a diferenciação da produção de vinhos de qualidade no Brasil passa pela diversificação das regiões de produção, até então com produção quase que unicamente ocorrente na Serra Gaúcha. No Rio Grande do Sul, bem como na região Nordeste (Pernambuco e Bahia), observa-se o direcionamento de instituições existentes (Aprovale, Asprovinho, Apromontes, Valexport), bem como de lideranças produtivas das regiões com potencialidade para futura organização associativa (Campanha, Serra do Sudeste, São Joaquim), para a estruturação e tutela de indicações geográficas de vinhos. Assim, observa-se direcionamento para potenciais futuras indicações geográficas que incluem:

- Serra Gaúcha, com sub-regiões como Vale dos Vinhedos (já implantada), Pinto Bandeira, Flores da Cunha-Nova Pádua;
- Campanha;
- Serra do Sudeste;
- Vale do Submédio São Francisco.

Tal direcionamento colocará o Brasil como produtor de vinhos de qualidade em distintas regiões determinadas, a exemplo do que ocorre na prestigiada viticultura européia. Os vinhos de qualidade produzidos em regiões determinadas configuram os chamados "Vinhos de 4ª. Geração". Através das indicações geográficas esses vinhos deverão resultar no fortalecimento e consolidação de uma verdadeira identidade nacional e regional para o vinho brasileiro, com aumento de competitividade no mercado interno e internacional.

As informações deste post foram extraídas na maior parte de informações da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que é um órgão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A Embrapa Uva e Vinho tem sede em Bento Gonçalves (RS) e estações experimentais de Fruticultura Temperada em Vacaria (RS) e de Viticultura Tropical em Jales (SP) e desenvolve ações de pesquisa com uva, vinho, maçã e outras fruteiras de clima temperado.

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