Adeus, lugar bom

quinta-feira, 13 de novembro de 2008


Extinto!!! Assim estará o curupeté, popularmente conhecido pelo nome de tambaqui, se não forem tomadas providências para conter a exploração comercial da forma como ocorre hoje. Em parceria com outro peixe, o pirarucu, o tambaqui é um dos dois peixes brasileiros de grande porte que já estão em processo de extinção. Adeus, costela de tambaqui! Adeus, lugar bom (significado provável da palavra tambaqui).


O tambaqui (Colossoma macropomum) também é conhecido como Pacu Vermelho e chega a atingir 90 cm de comprimento. Há registros de capturas de tambaquis de até 45 quilos. Mas, isso ocorreu no passado. Agora, em função de intensa atividade pesqueira, os tambaquis pesam, em média, 30 quilos.


O imenso peixe que vive na Bacia Amazônica, principalmente, alimenta-se de frutos e verduras aquáticas. Isso faz com que produza uma carne gordurosa, ideal para assados, cozidos e ensopados. Mas, a carne de tambaqui é bastante usada para churrasco de peixe. O tambaqui é o segundo maior peixe de escamas no Brasil. O primeiro é o já citado pirarucu. Coincidentemente, em função da carne saborosa e do tamanho, tanto o tambaqui quanto o pirarucu, em pouco tempo, poderão ser vistos apenas por meio de fotos.


E aqui vale registrar uma contradição da gastronomia: até onde podemos, nós, da cozinha, explorar os ingredientes - vegetais, animais e minerais - a ponto de não nos limitarmos por eventos corriqueiros como os processos de extinção ou, pior, sem o menor compromisso com a continuidade das espécies? Afinal, se os responsáveis não se preocupam, por que vou me privar desse prato? E por que não saboreá-lo antes que acabe? Isso é glutonaria ou o quê?


Mais vale um tambaqui servido com estilo à mesa ou a garantia de sobrevida do peixe no habitat natural? Devo servir uma Costela de Tambaqui na Brasa, assado, recheado, um Escabeche de Tambaqui e provar que sou um cozinheiro nativo, que conhece o peixe amazônico ou abrir mão da tenra carne do segundo maior peixe brasileiro e pensar que, a cada tambaqui na minha cozinha, contribuo para reduzir a expectativa de permanência dessa espécie sob as águas do planeta?


Devo ser ecológico e preservar a espécie ou pensar no cliente satisfeito, a lamber os beiços com a gordura cremosa do tambaqui? Até onde a gastronomia pode ir? E pode ir mesmo? Temos limites? A gula e cobiça na cozinha podem ser detidas? Minhas dúvidas são mais numerosas do que as escamas do tambaqui.

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