Torresmo

terça-feira, 4 de novembro de 2008


Ainda embalado e enlevado pelo Boteco Bossa Nova, projeto que, em grande parte, afirmo, do alto da minha falta de modéstia, planejei e organizei, comemoro com o torresmo, típico - e evitado atualmente - tira-gosto de botequim.

O torresmo me vem à lembrança porque um dos pratos que fizemos foi Caldinho de Feijão e uma amiga comentou que dava até mesmo para sentir o gosto do torresminho no final. De influência portuguesa, o torresmo é feito a partir do toucinho de porco. Cortado em pequenos pedaços, é frito até ficar crocante e douradinho, de estralar na boca.


Antes, quando ainda se usava banha de porco - e não faz tanto tempo assim não, foi ali, na década de 70, que começou a migração massiva para os óleos vegetais - o torresmo era consequência, e não objetivo. Na Bahia colonial, porém, os escravos usavam o torresmo como alimento e vem daí o uso atual.

Foi, aos poucos, associado à comida regional de Minas Gerais, e passou a ser consumido como petisco. De preferência, acompanhado por outra mineirinha, a pinga, e também - e melhor - na companhia de Feijoada e de Feijão Tropeiro. Agora, praticamente, está na nobreza dos cardápios de botecos.


Me lembro que quando matávamos porcos no sítio, fritávamos o toucinho justamente para obter a gordura (ou banha). Depois de fria, essa banha era acondicionada em latões de leite (de metal, não os do vulgo plástico de hoje) e as carnes mais tenras e nobres do porco eram mergulhadas nessa banha.

Depois de alguns dias, essa banha ficava branca feito neve e tirava-se, de tempos em tempos, a carne e um pouco da banha para fritar a costelinha, o lombinho e outras partes saborosas do porco que, mimosamente, grunhia no chiqueiro ao menor sinal da presença humana.


Tem duas coisas que me marcam a infância: a brancura do açúcar cristal em sacas de 60 quilos e a brancura da banha que conservava a carne. Como era branca a minha gulodice e eu nem havia me dado conta disso. Não sei dizer quando o branco deixou de ser o padrão dominante na minha gastronomia pessoal, mas, nunca me saiu da cabeça o creme branco, quase vegetal, da banha de porco e do torresmo que se obtinha nos velhos tachos de estanho. Ou eram de cobre?

Comments

No response to “Torresmo”
Post a Comment | Postar comentários (Atom)