Um cateto que não é matemático

sábado, 15 de novembro de 2008


Me lembro que tinha pavor de ouvir as palavras cateto (os dois lados menores do triângulo retângulo) e hipotenusa (o lado maior do triângulo) nas aulas de matemática. Até hoje, conservo um certo pânico diante da geometria e da matemática, em geral.


Mas, há um cateto que vive em várias regiões brasileiras - Amazônia, cerrado, pantanal, caatinga - que é uma das carnes de caça senão desprezadas, ao menos pouco usuais no cardápio brasileiro. Esse cateto não tem nada de matemático. É o popular porco-do-mato (Tayassu tajacu), que também chama-se caititu, tateto, pecari ou cateto.


O cateto ou caititu alimenta-se de frutas, raízes e de talos. Dentre as famílias de porcos-do-mato, é o menor das espécies existentes no Brasil. A outra espécie é a queixada (Tayassu pecari).

O cateto ou caititu são diferentes dos porcos domésticos (família de suídeos) e, antes da chegada do porco doméstico, pelas mãos dos portugueses, esse porquinho-do-mato nativo, que chega a pesar entre 14 Kg e 30 Kg, era a base da alimentação indígena e também do sertanejo em geral das regiões Norte e Nordeste.


O Brasil tem biodiversidades únicas - no Pantanal e na Amazônia. E, portanto, não é surpresa que continue a se descobrir novas espécies silvestres e selvagens da flora e da fauna. Ainda em 2004, descobriu-se uma nova espécie de porco-do-mato na Amazônia, o caititu-mundé, que chega a pesar o dobro em relação aos demais porcos-do-mato brasileiros.

O uso da carne de caça especificamente do caititu ou do cateto já era prática comum dos incas e dos índios brasileiros. Atualmente, o caititu é uma das espécies que se encontra sob proteção da legislação ambiental. Mas, a criação em cativeiro é permitida e algumas raras boutiques de carnes vendem o cateto para consumo.


Em geral, o porco-do-mato, com carne mais escura e não tão macia quanto o porco doméstico, é consumido de forma semelhante ao leitão pururuca: assado. A carne também é boa para fazer cozidos e guisados.

"Envolto em folhas aromáticas, um caititu assado inteiro, ah! O rei dos grandes pratos, porco bravio, carne com sabor de selva e liberdade", escreveu Jorge Amado em Dona Flor e Seus Dois Maridos. Imagino que o próprio Jorge havia experimentado o cateto para falar com tanta propriedade sobre o gosto da carne. Como o brasileiro tem pouca tradição de carne de caça, o cateto é uma opção gastronômica que lembra, muito vagamente, a caça de javali de outros países.

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