Machices

sexta-feira, 31 de outubro de 2008


Tenho comigo que alguns alimentos são essencialmente machos. E o maxixe é um desses, na minha questionável opinião. Veja bem: os frutos são ovalados, de casca espinhosa ou lisa, de cor verde clara. Atente: ao escolher os maxixes, opte pelos frutos firmes, com cor uniforme e espinhos inteiros. Os frutos amarelados, por serem velhos, devem ser evitados, pois tornam-se subitamente fibrosos, com sabor ruim e sementes duras.


Na minha tradução sexista: os homens são ovalados, barbudos ou sem pêlos e verdes, de juventude. Quando jovens, são firmes, de cor boa e saudável e inteiros, sem avariações. Ao envelhecerem, são praticamente relegados a um universo invisível porque tornam-se imediatamente ranzinzas, chatos e teimosos feito velhas mulas.


O maxixe (Cucumis anguria) é assim, portanto, macho, a despeito de ser uma fruta-hortaliça. É popular no Nordeste. No Sudeste, é menosprezado. Sempre os houve, desde que eu me lembre, quando eu morei na zona rural. Sempre os tive por mato, nunca por alimento. Mas, o maxixe, por ser coisa de machices, é comido sim, e tanto cozido quanto ensopado. E até mesmo cru. Esse fruto tem algum parentesco com pepino (outro macho) e abóboras (fêmeas, totalmente fêmeas) e, por isso, podem, sim, ser comidos crus.


(Maxixada)

Uma vez mais, devemos o maxixe à África. Hortaliça da família Cucurbitacea (dos primos pepino, abóbora, melão e melancia), o maxixe dá origem à maxixada, prato típico nordestino, que nada mais é que um cozido feito à base de maxixe, carne, abóbora, quiabo e temperos. Há quem os use em substituição ao pepino, nas saladas.


(Maxixe Recheado)

Por conseguinte, nunca duvide da virilidade de uma frutinha. Nada, nada, o maxixe é pau para toda obra. E, eu, inocentemente, nunca botei reparo no maxixe. Ah! Esses machos e suas machices ... Quanta pretensão, não é?

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