Arroz vermelho

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Eu não sabia disso: o Vale do Rio Piancó, na Paraíba, é o refúgio do arroz vermelho (Oryza sativa L.) no Brasil. O arroz vermelho é conhecido também como arroz-da-terra e arroz-de-veneza. O Vale do Rio Piancó é formado por solo fértil - me lembra a fertilidade do rio Nilo, do Egito - e dispensa a tecnologia.

(Arroz vermelho)

E, às vezes, e quase sempre, a ausência de tecnologia produz mais benefícios do que danos. É o caso da região paraibana. A completa ausência de infra-estrutura tecnológica impediu a introdução de outras culturas de arroz na região e, assim, o arroz vermelho reina sozinho.

Como quase toda a agricultura de subsistência do Brasil, a cultura do arroz vermelho é praticada por pequenos agricultores. É a lavoura de subsistência, arcaica, tão antiga quanto os arrozais e a agricultura chineses de lá do outro lado do mundo.

Como agricultura de sustentação da população local, o arroz vermelho sempre esteve relegado ao consumo regional. A mim me espanta saber que existe esse arroz, logo ali, na Paraíba. Claro que é impossível saber e abranger tudo, como um Atlas a carregar o mundo nas costas.

Mas, o arroz é item primeiro na gastronomia brasileira. Arroz, sim. Antes do feijão, da farinha e de qualquer outro alimento. E o preciosismo fica por conta do fato de eu conhecer o arroz selvagem (preto) e desconhecer o vermelho da terra.


(Os arrozes vermelho e branco)

Aliás, em busca de mais informações, constatei que o arroz selvagem não é considerado arroz, e sim a semente de uma gramínea aquática (o nome científico do arroz selvagem é Zizania aquatica). O arroz selvagem era o alimento básico dos índios Chippewa e Sioux, da América do Norte (inclui EUA e Canadá).

O arroz vermelho não é um produto nativo do Brasil. Chegou ao País no século XVI, trazido pelos portugueses. Como sempre, a política governamental, mais cedo do que mais tarde, acaba por desandar com o arroz e outros pratos alheios. Na época, a então Coroa Portuguesa mudou o destino do arroz vermelho no Brasil e proibiu o cultivo na província do Maranhão, onde o vermelho vicejava fartamente há dois séculos.

A Portugal interessava apenas a expansão da cultura do arroz branco. Com a proibição, as plantações de arroz vermelho migraram para a Paraíba, onde estão até hoje.


(Agricultura de arroz vermelho na Paraíba)

Mas, nem tudo são verdes mares para o arroz vermelho. Ao contrário, podem ser mares vermelhos. Essa espécie de arroz é considerada a invasora - em agricultura, uma planta é considerada invasora quando ocorre em local e momento indesejados e interfere negativamente no cultivo - que mais danos causa à lavoura orizícola (de arroz) gaúcha, porque reduz a produtividade, é bastante depreciada quando chega ao produto final e apresenta dificuldade de controle.

O arroz vermelho é classificado como Oryza sativa L., ou seja, da mesma espécie que o arroz branco largamente cultivado em todo o mundo. Levantamento japonês dá conta da existência do arroz vermelho pelo menos desde o ano 700 d.C.

A queda mundial na produção do arroz vermelho ocorreu porque a lavoura dessa cultura era de baixo rendimento de grãos e de pouco sabor. Ainda na metade do século XIX, as plantações de arroz vermelho começaram a declinar e praticamente desapareceram após a Segunda Guerra Mundial, ou seja, em meados da década de 40.

Mas, o cultivo do arroz vermelho continua. Aqui, na Paraíba, no sul da China e em outras partes da Ásia. O arroz vermelho é consumido na forma tradicional do arroz branco e também pode ser usado em sopas especiais, bolos ou até mesmo na confeitaria, para a produção de bolachas. O arroz vermelho também vai bem como guarnição para carnes e frutos do mar como o polvo.

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