Na primeira água, Jacy (Lua) e Iassytatassú (Estrela D'Alva) combinaram uma visita a Ibiapité (centro da Terra). De madrugada, deixaram Ibacapuranga (Céu Bonito) e desceram para a Terra. Pararam, descansaram no enorme disco da Iupê-jaçanã (vitória-régia) e seguiram viagem ao centro da Terra. Na travessia, quando as duas se preparavam para descer o Ibibira (abismo), Jacy foi picada na face pela Caninana Tyiiba (espécie de cobra). Ao ser picada, Jacy verteu copiosas lágrimas amargas que caíram sobre uma plantação de mandioca. Jacy ficou com o rosto marcado para sempre por causa das picadas da Tyiibia. Mas, quando as lágrimas caíram sobre o mandiocal, surgiu o tycupy (tucupi).
(Índias manejam o tipiti para extrair o tucupi)
O tucupi é um caldo de cor amarela, extraído da raiz da mandioca brava. Para se extrair o tucupi, descasca-se, rala-se e espreme-se a mandioca brava. Usa-se, na mais antiga tradição, um recipiente chamado tipiti para realizar esse processo. O tipiti é um instrumento cilíndrico no qual é colocada a massa obtida do manuseio da mandioca brava. Esse instrumento é dependurado para que todo o líquido escorra para um outro recipiente. Esse líquido gerará tanto a goma quanto o tucupi. Após a extração, o molho ou caldo obtido é colocado em descanso para que o amido (goma ou tapioca) separe-se do líquido (tucupi).
O tucupi, no princípio, é venenoso porque contém ácido cianídrico, que é um gás altamente tóxico e potente e que, inalado em grandes quantidades, interfere na condução de oxigênio às células, isto é, pode matar por asfixia.
(Tucupi à venda no mercado Ver-o-Peso, em Belém, Pará)
Mas, nossos antepassados indígenas, que conheciam cada planta das florestas, descobriram o processo de filtragem do veneno: basta deixar o caldo exposto ao sol por três ou quatro dias para que o gás seja liberado. Pode-se, também, simplesmente ferver o tucupi por algumas horas para eliminar o gás e o tucupi está pronto para ser consumido.
(Pato no Tucupi)
O tucupi é uma herança indígena e os índios já o usavam para preparar o pato selvagem em fogão de pedra. Depois de assar o pato, os índios o cozinhavam no tucupi. Em geral, o tucupi é temperado com sal, alho, chicória (também conhecida como coentro-do-pasto), alfavaca e pimenta de cheiro. O tucupi acompanha muito bem o pato, claro, e outros pratos como o tacacá, o leitão, peixe, camarão e carnes de caça. O Pato no Tucupi é o mais famoso prato da região Norte e um dos mais típicos do Brasil. Existe, por incrível que pareça, o Sorvete de Tucupi, que deve ser servido com tiras finas de queijo coalho previamente assado em forno brando. Que delícia!!!
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