Comida de Boteco

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

O Brasil tem mais de 1 milhão de bares, conforme dados da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel). E, entre essa verdadeira instituição de cada um dos 5.562 municípios brasileiros e mais algumas centenas de distritos, encaixam-se - e talvez predominem - os botecos. A expressão "boteco da esquina" não é mera coincidência. Há, mesmo, praticamente um boteco a cada esquina brasileira.


(Picanha com Fritas)

A palavra "boteco" (e as variáveis botequim e buteco) vem do português "botica" e do espanhol "bodega". Ambas são originárias da palavra grega "apothéke", que significa depósito. Tanto em Portugal quanto na Espanha, as boticas e bodegas, respectivamente, eram lojas onde se vendiam mantimentos, miudezas e, claro, bebidas.


(Provolone à Milanesa)

No Rio de Janeiro, os botequins são chamados também de "caipirinha" e "pé-sujo". Belo Horizonte é chamada de "capital nacional do boteco": concentra mais de 12 mil estabelecimentos desse tipo.


(Mini-torresmo)

Há, no Brasil, diversos eventos que têm promovido constantemente as comidas de boteco, o que os coloca - os botecos de bom nível - em um patamar alternativo a restaurantes e, muitas vezes, até mesmo superiores em qualidade e diversidade gastronômica.

O que se serve em um boteco?

Tudo!

(Calabresa Acebolada)

De batata frita a escondidinho, de fígado acebolado a queijo provolone à milanesa, de chouriço apimentado a jiló frito, de caldinho de sururu a bolinho de milho, de manjubinha no fubá a torresminho frito.

O boteco é, mais ainda do que o bar, uma instituição. Entendo os ingleses com o pub, os espanhóis com a taverna, os franceses com o bistrô, os italianos com a cantina e tantos outros povos que definem das mais diversas maneiras o botequim.


(Caldinho de Sururu)

Por que os botecos atraem tantas pessoas? Porque no boteco se socializa o convívio, entre conhecidos ou estranhos. Bebe-se de forma comunitária. E come-se. Come-se muito. Há um intenso movimento entre a cozinha e as mesas. Há dezenas de opções, de improvisos. Um boteco pode improvisar. É da condição do boteco ser informal.


(Chouriço)

A comida de boteco é gastronomia pura: une tradições, acaba com tradições. Mistura tudo e separa tudo. Tudo é possível na cozinha mágica de um boteco.

Nas mesas dos botecos, formam-se amizades eternas e fomentam-se inimizades duradouras. Paquera-se, namora-se. Vidas cruzam-se em botecos anônimos, em esquinas maltrapilhas, em banheiros malcheirosos. No botequim esquecem-se as mágoas e a felicidade é entornada em cada gole. Filtram-se as frustrações em cerveja, em chopps gelados, em destilados das mais variadas espécies. Alguns, exóticos, dão fórmulas de virilidade.


(Manjubinha)

O boteco é presença. E também ausência. É do bebedor solitário, do compulsivo, do alcoólatra. Também é da coletividade, do ajuntamento, da turma, do pessoal, dos amigos e colegas.

Me ocorre que as farmácias chamavam-se boticas. E, se o botequim deriva das boticas, deduzo que oferecem remédios, se não para o corpo, com certeza para a alma.

Comments

2 Responses to “Comida de Boteco”
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Anônimo disse...

Maravilhoso seu texto!! Se me permitir, gostaria de publicá-lo em meu blog, com os devidos créditos, claro!

26 de novembro de 2008 às 03:09
Redneck disse...

Oi Nanda, obrigado. Claro que você pode publicar o texto no seu blog. Seja bem-vinda e visite o meu outro blog também - http://rastreiodecozinha.blogspot.com. Beijo!

26 de novembro de 2008 às 13:29