Galinhagem no terreiro

sábado, 25 de outubro de 2008


Aqui neste terreiro, pelo menos, eu sei quem surgiu primeiro: foi a galinha. O ovo ainda terá um post próprio, mas, antes, dou prioridade à galinha porque sou educado sob princípios básicos, entre os quais, àqueles que determinam a primazia ao sexo feminino. Como ovo é masculino, a galinha vem primeiro. Mais uma lenda resolvida!


A galinha e o galo são da espécie Gallus gallus domesticus. Os frangos são os jovens dessa tribo e os pintos ou pintinhos são os bebês. A galinha (e sempre que eu me referir à galinha quero dizer toda a família - galo, galinha, frango(a) e pintinhos) é o animal doméstico mais abundante no mundo. Em 2003, havia 24 bilhões dessas aves no planeta, o que dava, à época, quatro galinhas para cada habitante. É muita galinha, não é não?

Toda essa galinhagem faz com que a ave seja uma das mais importantes fontes de alimento em todas as regiões do mundo. A galinha surge como referência histórica no século VII a.C. e, provavelmente, vem da Ásia, origem da espécie doméstica Galo Banquiva (Gallus gallus). Ainda, há registros de aves selvagens em 1.400 a.C. Os gregos disseminaram as penosas por toda a Europa e os grandes conquistadores europeus de então (como Portugal e Espanha) espalharam as penas nas colônias, entre as quais o Brasil.


A galinha foi um dos primeiros animais domésticos a chegar ao Brasil. Durante a visita de dois jovens índios - Poti e Peri, primeiro casal de gays brasileiros - à primeira nau capitânea portuguesa, no dia 24 de abril de 1.500, em Porto Seguro, o colega jornalista da época, Pero Vaz de Caminha, descreveu o encontro entre os indígenas e a galinha: "Mostraram-lhes um papagaio pardo que o capitão traz consigo. Tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como quem diz que os havia ali. Mostraram-lhes um carneiro, não fizeram caso. Mostraram-lhes uma galinha, quase tiveram medo dela, não lhe queriam pôr a mão, e depois a tomaram como que espantados." Atualmente, o País que teve medo das galinhas é o terceiro maior produtor de carne de frango mundial (atrás dos EUA e China) e o principal exportador da ave.

Mas, conforme os registros, a galinha não ficou em solo brasilis no ano de 1.500. Apenas em 1503, uma outra expedição portuguesa, de Gonçalo Coelho, trouxe casais da ave, ou seja, o galo e a galinha. Adaptadas ao clima tropical, rapidamente as aves se multiplicaram. Quando Fernão de Magalhães aportou no Rio de Janeiro em 1519, já havia uma grande quantidade de galinhas em terras - e terreiros e quintais - brasileiras.

Os primeiros espécimes de galinha que foram trazidos ao Brasil, provavelmente, eram da raça Brown Leghorn que, cruzada com as raças de galinhas asiáticas, deu origem à chamada "galinha crioula". Outros cruzamentos levaram à criação de algumas raças brasileiras, de origem duvidosa, que sequer constam efetivamente como raças mundiais. Esses cruzamentos, finalmente, originaram a popular galinha caipira.


A galinha caipira brasileira tem cinco raças:

- Macaé: do Rio de Janeiro, resultado do cruzamento da Leghorn com a crioula ou da degeneração da raça Leghorn quando trazida para o solo do Brasil.
- Cabu: também do Rio de Janeiro, com plumagem azul ardósia, provavelmente decorrente da mistura da galinha crioula com a raça Andaluza.
- Galo-galinha: essa raça formou-se em Santa Catarina, descendente da raça Indian Game, asiática.
- Carioca: raça que é registrada como genuinamente brasileira. Os padrões genéticos dessa galinha são semelhantes aos das aves malaias (Malásia), que deram à galinha crioula brasileira. Em Portugal, a Carioca era chamada de "Raça da Bahia". Dessa variedade, Carioca, foram geradas ao menos duas outras raças: a Urubu, de carne arroxeada e com mais penas e bastante utilizada no Norte e Nordeste, principalmente no Ceará e em Pernambuco; e a Cattete, de corpo pequeno, penas lisas, espertas e cantoras.


A galinha carijó (do tupi-guarani kari'yo), que significa preto salpicado de branco, é conhecida também como galinha pedrês. No entanto, não é considerada uma raça, e sim apenas uma denominação popular. As raças de galinhas são classificadas em leves, médias e pesadas e há mais raças de galinha na terra do que sonham as nossas vãs penas filosóficas.

No Brasil, e talvez em outras regiões do globo, as mulheres muitas vezes são associadas a galinhas (e a vacas, iguanas, capivaras, tigresas, leoas, antas etc. etc. etc. etc. etc.) e, de praxe, costumam reagir mal a esse tipo de chamamento. Não entendo porquê. Galinhas são seres alegres, cacarejantes, botam ovos, geram pintinhos e ciscam o mundo em busca de fofocas e de alimentos. Exatamente como o gênero feminino da espécie humana.

Quando abatidas, as galinhas (aves, não mulheres), resultam em ótimos pratos. Adoro Xinxim de Galinha, Galinha ao Molho Pardo, Frango de Panela, Frango Assado em televisão de cachorro, Coxinha de Galinha, Frango a Passarinho e muitos outros pratos que usam a galinha como base. Portanto, como provedora, a galinha (a ave) é, antes de tudo, uma forte, feito uma mulher sertaneja.

Também depois que vai para a panela, a galinha é depenada e com as penas se faz de tudo um pouco: de travesseiros a fantasias mirabolantes de Carnaval, umas (aves) enfeitam as outras (mulheres).

Sem falar nos ovos que geram novos pintos. Que vem a dar no mesmo que afirmar que nós, pintos (homens), nascemos das galinhas (mulheres).

Portanto, mulheres, está na hora de parar de reagir com raiva. As galinhas, aves, são decentes: cacarejam a cada ovo botado, nunca gratuitamente, como o fazem as mulheres; as galinhas cuidam dos pintinhos e saem a ciscar a terra e sempre trazem comida para casa, ao passo que as mulheres, por vezes, deixam os pintinhos (e pintos) para traz, sem comida e sem amor.

Penas para que te quero, adoro as galinhas (aves). Somente sinto pena do fato de que as pobrezinhas não voam. E o motivo é dos mais prosaicos: sofrem de cãimbra se o fizerem e, portanto, estão limitadas ao rês do chão. Olha só que coerência: nada de vôos grandiosos e fantasias, apenas a realidade.

Abaixo, a relação das raças mundiais de galinhas. São nomes bastante interessantes que posso usar, oportunamente, para designar as outras (mulheres):

- Amrocks
- Andaluza
- Appenzeller
- Araucana
- Asil
- Augsburo
- Australorp
- Barnevelder
- Bielefelder
- Brahma (boa para acompanhar a bebida)
- Brakel
- Breda
- Brigador de Brujas (tudo a ver!)
- Brigador Indiano
- Brigador Inglês Antigo (Churchill)
- Brigador Inglês Moderno (Tony Blair)
- Brigador Lieja
- Brigador Malayo
- Conchinchina (melhor para fazer coxinha)
- Crêve-Coeur (educadas no colégio Sacre-Coeur)
- Croad-Langshan
- Cubalaya (latina)
- Dominicana
- Dorking
- Drentse
- Dresde
- Faverolles
- Fênix (renasce, ainda que morta)
- Frisona
- Gigante Negro de Jérsei (???)
- Hamburgo (boa para hamburguer de frango)- Houdan
- Hy Line
- Hysex (humm!!!)
- Isa Brown e Isa White (gêmeas)
- La Fleche (cupida)
- Lakenfelder
- Leghorn
- Lohman
- Malines
- Marans
- Minorca
- Nagazaki Branca (japonesíssima)
- New Hampshire (esnobe)
- Orpington
- Pedrês Portuguesa
- Pincel (artista)
- Viena Morroxes (Freud explica)
- Vhona
- Preta Lusitânica
- Plymouth Rock (luxuosa)
- Rhode Island
- Sedosa do Japão (hummm!!!)
- Sexiwos (hummm!!!)
- Shamo
- Sussex
- Sussex Brown
- Wyandottes
- Zebraite (zebrai-te tu, oras!)

Comments

4 Responses to “Galinhagem no terreiro”
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Anônimo disse...

Adorei!!!!!!
Esses pintinhos são fofésimos.
Beijossssssssss

26 de outubro de 2008 às 00:08
Redneck disse...

Não é mesmo? E tem gente que acha ruim, tem medo ou corre quando vê um! Beijo!

28 de outubro de 2008 às 04:08
Anônimo disse...

Tudo bem, as galinhas sao umas fofas, mas eu tenho medo delas, nao gosto. Prefiro que fiquem no galinheiro ou se transformem num bom ensopado.

Bjo

30 de outubro de 2008 às 01:26
Redneck disse...

La Voyageuse, as penosas, até mesmo por uma questão de afinidade, jamais lhe farão mal. E quem disse que elas gostam de você, com seu olhar guloso no posterior ensopado? Beijo!

31 de outubro de 2008 às 02:00