Um jantar de domingo

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Fazer o trivial - arroz, feijão, salada e um bife - apenas satisfaz a fome. O prato rotineiro é rápido: faço comida doméstica em 30, 40 minutos. Quando cozinho para o dia-a-dia, claro que não uso as técnicas aprendidas em gastronomia. Em geral, não dá tempo. Tenho que fazer, literalmente, apenas o feijão com arroz.

Mas, em alguns dias, me ocorre que devo me dar alguns prazeres à mesa: um prato preparado com esmero e carinho, em que cada ingrediente casa com o outro, numa sinfonia de cheiros, gostos, sabores e cores.

Nesses dias, inspirados, uso todos os recursos de que disponho: faço uma mise-en-place (pré-preparo) completa, com direito aos cortes precisos (julienne, brunoise, cubos), à limpeza dos ingredientes e ao preparo de todos os componentes dos pratos que farei.

Fiz dois pratos: Spaguetti com Shimeji e Pimenta Rosa e Cavalinha Frita. Estampei o post com as fotos dos pratos.


Depois de ter separado, cortado e limpado todos os ingredientes, comecei a cozinhar.

Minhas produções dariam para servir, ao menos, três pessoas.

Usei:

- 500 gr de spaguetti
- 460 gr de cavalinha
- Pimenta rosa
- Molho de tomate com alcachofras (comprado pronto)
- Azeite aromatizado com baunilha
- Sal
- Pimenta-do-reino
- Atum em lata
- Azeitonas recheadas com pimentão vermelho
- Óleo vegetal
- 1 pacote de shimeji (tipo de cogumelo japonês)
- Manjericão hidratado (à venda em saquinhos)
- Alho
- Cebola
- Shoyu (molho de soja)

Fiz da seguinte forma:


Molho para o spaguetti

1. Cortei uma cebola média e 4 dentes de alho em cubinhos (brunoise) bem quadradinhos e minúsculos.
2. Refoguei, pela ordem, o alho e, depois, a cebola (na cozinha brasileira, é essa a sequência correta) em óleo vegetal.
3. Acrescentei o molho de tomate com alcachofra pronto e um pouco de água.
4. Reduzi o fogo e deixei cozinhar.
5. Piquei a azeitona recheada também um cubinhos e adicionei ao molho.
6. Acrescentei, mais tarde, o atum.
7. Misturei tudo e deixei cozinhar por mais uns 15 minutos, sempre em fogo baixo.
8. Reservei o molho.

Shimeji

1. Cortei 3 dentes de alho em cubinhos.
2. Cortei 10 pimentas rosas na faca e deixei bem pequenininhas.
3. Coloquei em uma frigideira o azeite aromatizado com baunilha e refoguei o alho e a pimenta rosa.
4. Separei o shimeji em pequenos ramos.
5. Juntei tudo na frigeideira e salteei por uns 5 minutos.
6. Adicionei ao shimeji, antes de tirar a panela do fogo, um pouco de shoyu.
7. Reservei o shimeji.


Spaguetti

1. Fervi uma panela com bastante água e algumas pitadas de sal.
2. Coloquei o spaguetti e deixei ferver em fogo médio por uns 8 minutos.
3. Tirei o macarrão e passei para o escorredor.
4. Reservei o macarrão.

Cavalinha

1. Limpei as cavalinhas e tirei a espinha e todos os espinhos. Deixei a pele.
2. Temperei apenas o lado interno (sem pele) com sal, pimenta-do-reino e manjericão.
3. Fritei rapidamente a cavalinha: uns 3 minutos de cada lado, no mesmo azeite aromatizado com baunilha que eu havia usado para saltear o shimeji.

Servi, conforme as fotos:


Cavalinha: decorei com pimenta rosa e aspergi uma chuvinha de manjericão.

Spaguetti: adicionei o molho de atum e o shimeji sobre o spaguetti e também polvilhei com manjericão.

Decorei o prato com azeitonas previamente separadas para dar cor. Poderia, também, colocar um fio de azeite. Mas, ou usava o azeite ou a azeitona. Ambos, juntos, são excessivos e poluem o prato.

Em geral, tendemos, no dia-a-dia, a juntar tudo - macarrão e molho - e misturar. Mas, o correto é servir a pasta com apenas uma porção de molho, como fiz.

A pasta estava um pouco além do ponto al dente (porque prefiro assim) e a cavalinha ficou, quando pronta, ao equivalente a uma posta de atum, com uma pequena crosta formada com os temperos.

No primeiro post deste blog, logo aí abaixo, descrevi os princípios do Manifesto Terreiroir e sobre como valorizar o produto local brasileiro. Você, leitor(a), pode achar que surtei ao usar tantos ingredientes que nada tem a ver com o tempero local.

Mas, antes que eu seja rechaçado como hipócrita e cínico ou seja lido como um traidor de mim mesmo, quero dizer que aprecio todas as formas de cozinhas, sejam quais forem. O fato de eu defender a causa do produto local significa apenas que eu quero valorizar o ingrediente brasileiro. Mas, não exclusivamente me ater ao ingrediente local.

Se eu o fizesse, seria tão obtuso e extremista quanto estar do outro lado. Sou plural na cozinha. Não tenho limitações. Quando fiz o meu jantar neste domingo, queria apenas ter o prazer de me alimentar com algo que eu mesmo preparei, da melhor forma que consigo. Creio que qualquer atitude que leve a um extremo ou outro simplesmente impede que vejamos outras formas de fazer as coisas, tão boas ou ainda melhores do que as nossas.

Sou, antes de tudo, atento às circunstâncias que me envolvem e ao meu mundo e se defendo o uso do produto local é porque acho que, neste instante, há pouca valorização das coisas brasileiras na gastronomia brasileira.

Portanto, não sou ortodoxo a ponto de me conter dentro de limites bobos. Gastronomia, como cultura, é um universo ilimitado. Cabe a mim mesmo, como um futuro profissional de cozinha, fazer os mais diversos experimentos. E, se ouso defender em manifesto o produto do Brasil, é apenas porque vejo isso como um possível caminho para a alimentação, em geral.

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