Salvação da lavoura

terça-feira, 10 de março de 2009


Nos interiores do Brasil, usa-se a expressão "salvação da lavoura" para remeter a algum evento - natural ou artificial - cuja adoção evita, literalmente, determinada perda ou prejuízo. Melhor: define um ganho ante o inesperado dos fatos.

Assim, uma chuva pode salvar a plantação. Também pode dizimá-la. Um prato bemfeito pode ser um elemento de agregação. Bem como uma refeição caseira tem o dom de resgatar momentos da memória gustativa e emocional.

De forma que, aparentemente descontextualizado da pretensão deste blog, que se quer basicamente nativo, elejo o macarrão instantâneo (aka Miojo) para figurar neste que se pretende um espaço nacional em oposição ao terroir estrangeiro que invade essas plagas brasileiras.

Pois que tentarei convencê-lo(a), a ti, leitor(a), da legitimidade do Miojo na gastronomia brasileira. Se não pelas origens, ao menos pelo apelo que este tipo de refeição representa em larga escala na economia nacional. E escrevo isto com propriedade, pois que, gourmand por definição e também formalmente, faço uso do Miojo quando: o tempo urge, a fome aperta, o dinheiro é curto, a preguiça é larga, o pêndulo do carboidrato vence a proteína.


O Miojo foi lançado em 1958. Tem, pois, 51 anos de existência. Mas, o produto é tão importante que a comemoração dos 50 anos do macarrão começou no dia 25 de agosto do ano passado e terminará no dia 25 de agosto deste ano. Uma festa para um alimento que tem abrangência mundial. O criador do macarrão instantâneo foi o taiwanês Momofuku Ando. E a ideia surgiu de uma observação aparentemente banal: Ando notou que as pessoas não andavam nas filas de compra de alimentos. Desculpe o trocadilho, mas, se você me conhece, sabe que sou cheio de gracinhas. Se não conhece, prazer.

O pioneiro foi o macarrão instantâneo "chicken lámen", lançado no Japão pela empresa Nissin Food, criada por Ando. Foi considerado, não instantaneamente, a invenção japonesa mais importante do século XX, conforme pesquisa feita em 200o naquele país. Para que o macarrão adquira o rótulo de "instantâneo", a pasta passa por um processo de secagem em óleo fervente. Por isso, ao cozinhar o Miojo em casa, obtemos um prato rápido e, se preparado com alguns ingredientes adicionais, funciona melhor do que uma junk food de lanchonete norte-americana.

No Brasil, o Miojo fundou suas bases macarrônicas em 1965, nos sabores galinha e carne. Para que saiamos do território japonês e atraquemos em terra brasilis, sugiro que você faça aquilo que, na moda, define-se por "customização". A palavra "customização" não existe em português. É apenas um anglicismo que nada mais é do que "adaptação".

Adapte o seu Miojo conforme suas preferências: animais (carne bovina e frango) e vegetais (verduras e legumes). O macarrão instantâneo não é flexível apenas quando cozido. É elástico o suficiente para agregar qualquer sabor: frango em pedaços refogado em alho, cebola e óleo; carne de vaca em tirinhas com broto de bambu ou de feijão; salsicha; linguiça frita com bacon; couve refogada com ovo; atum ou sardinha. Qualquer combinação é possível.

Portanto, antes de me condenar à fogueira de folhas de bananeira, ramos de ingazeira e palha de arroz vermelho, pense e avalie se, na hora da precisão, você mesmo(a) não vislumbrou a "salvação da lavoura" na gôndola dos instantâneos. Num flash, você verá que lá no fundo, nem que seja quase lá fora, eu tenho um pouquinho de razão. O Miojo é, pois, quase um "arroz com feijão" na faina da cozinha doméstica diária.

P.S. Tanto tempo que passei fora daqui requer uma série de explicações. No mínimo, em respeito ao(à) leitor(a) que já fazia (acredito que sim) daqui um espaço de visitação diária. Poderia eleger um rosário de desculpas. Mas, soaria falso. A ausência deste espaço se deve única e exclusivamente à minha preguiça em alimentar este espaço da mesma forma que o faço com o corpo, todos os dias: com determinação. Desde o ano passado, quando conclui a faculdade de gastronomia, creio que fui atirado a uma espécie de limbo no qual tenho permanecido, mais adormecido do que uma marmota. É como se com o término da faculdade, eu tenha encerrado também ideias. O que não é verdade. Não prometo uma retomada intensiva, mas, valorizo este espaço o bastante para me olvidar dele por completo. E se saio dos meus próprios parâmetros, ditados no post primeiro, é porque o mundo não está circunscrito apenas ao meu quintal, como eu já deveria estar maduro de saber. Eis pois que posts os haverá, não mais com aquele rigor mortis estabelecido no princípio que, além de carecer de originalidade, carece, pois, de sensatez da minha parte. Até mais!

Comments

2 Responses to “Salvação da lavoura”
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Anônimo disse...

Não tem de quê...

Adorei o post, não conhecia este macarrão instantâneo...Bem, como sempre, deixaste-me a salivar...Pena é que não acho que exista isto por aqui...vou ver se descubro nalgum supermercado. Obrigada pela dica.

beijo

Ana

11 de março de 2009 às 21:09
Redneck disse...

Ana, você é ótima e me incentiva com seus comentários. Eu pensava que este macarrão era disseminado pela Europa inclusive. Garanto que se você encontrar, vai gostar. Beijo!

11 de março de 2009 às 22:59