Comedores de capim

segunda-feira, 16 de março de 2009


Esporte bretão por excelência, a caça é bastante rara no Brasil. Quer dizer, afirmo isso sobre a caça com fins alimentares, para produzir pratos baseados em carnes de caça, e não da caça predatória que, certamente, dizimou várias espécies nativas e tem muitas outras na mira. Sem falar na caça de animais silvestres (bichos e aves), destinada única e exclusivamente ao contrabando de espécies brasileiras em vias de extinção.


(A capivara em habitat natural, nas pastagens pantaneiras)

Porém, este é um blog voltado à cadeia alimentar, e não à cadeia criminal. Portanto, deixo a política e fiscalização com quem de direito. Quero comentar sobre uma das poucas carnes de caça de que dispomos no País, a capivara (Hydrochoerus hydrochaeris). Sim, aquelas que, de vez em quando, aparecem no noticiário, protagonistas que são de aparições inesperadas em rios e córregos das grandes cidades brasileiras: em São Paulo, nos rios Tietê e Pinheiros; no Rio de Janeiro, na Lagoa Rodrigo de Freitas.

A capivara é o maior roedor vegetariano do mundo e é nativa das Américas do Sul e Central. O habitat natural desse bicho é ao redor de rios e lagos (como o castor). O melhor lugar, de fato, são as várzeas (e, por isso, a presença das capivaras nas cidades) e áreas alagadas. Adultas, as capivaras chegam a 80 quilos. No Rio Grande do Sul, esses animais são chamados de "capincho" ou "carpincho".


(Carne de capivara in natura em centro de abate autorizado)

Uma das faculdades da capivara é a sua capacidade de permanecer submersa na água para se defender de predadores. No Pantanal Matogrossense, região que é o Éden para as capivaras, a atividade desses animais - pastagem, locomoção, procriação - ocorre, em geral, de manhã ou à tarde. Mas, fora dessas regiões e dentro de áreas críticas, as capivaras praticam atividades noturnas como forma de se defenderem. Estima-se que apenas no Pantanal exista um rebanho (manada?) de 400 mil capivaras.


(Pernil de capivara)

No Brasil, durante as décadas de 60 e de 70, a caça indiscriminada à capivara ainda era permitida. Os objetivos dos caçadores eram a extração da pele e do óleo, considerado medicinal. Agora, pelo fato de não haver uma fiscalização eficaz, as capivaras ainda são caçadas, principalmente na região Sul. Os animais tanto são aprisionados para serem criados em cativeiro quanto para serem caçados comercialmente. A capivara, é bom registrar, é uma espécie protegida por lei. Logo, qualquer tipo de atividade clandestina é ilegal e passível, inclusive, de prisão.

Como as leis de proteção a espécies da flora e da fauna são pouco eficientes no Brasil, caça-se capivaras por todo o País. Sim, existem projetos de criação em cativeiro para o consumo humano. Mas, assim como para outras espécies, esses projetos não são rentáveis do ponto de vista comercial e, portanto, as pessoas preferem pagar pelas atividades ilegais de caça.


(Delicado prato de carne de capivara com crosta de banana da terra e purê de feijão manteiga servido em restaurante de São Paulo)

A carne da capivara é semelhante à carne de porco em sabor. Porém, é mais magra e picante do que a carne suína. Se a textura é semelhante à do porco, em valor protéico a capivara é equivalente ao coelho. A carne, em geral, é consumida cozida, assada, frita, defumada e também usada para fazer salsicha e linguiça. E, ainda, charque. Mais do que no Brasil, a capivara é largamente consumida na Venezuela, de preferência como a carne seca que se faz aqui ou como linguiça.

O nome capivara vem da língua tupi e significa "comedor de capim" (caapii-uara). As capivaras alimentam-se de capim, principalmente. Mas, também comem raízes, milho, mandioca, cana-de-açúcar, bananas verdes, talos de bananeira, aguapés, samambaia e até mesmo peixes aquáticos, a despeito de serem herbívoras, predominantemente. Me ocorre que essa mudança de cadeia alimentar tem a ver com alguma forma de defesa, de nós, os predadores.

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