A referência mais antiga que se tem do alho vem da Bíblia, quando Satã foi expulso do Paraíso e, ao caminhar, deixava alhos a brotar das pegadas esquerdas e cebola das pegadas direitas. De forma que o casamento entre alho e cebola esteve, desde o início, predestinado a ser consumado.
Mas, na vida real, não se sabe exatamente quando e onde o alho "surgiu", quer dizer, quando foi devidamente assimilado pelo homem. Os registros mais confiáveis apontam para o uso do alho há mais de 6 mil anos, em regiões que vão do mediterrâneo europeu ao solo asiático, com passagens pela Sibéria e Egito.
Assim como o sal já foi moeda, o alho também o foi: no Egito, sete quilos de alho pagavam um escravo e, na Sibéria, os impostos eram pagos em alho. Desde o princípio, o alho foi usado para conservar carne. Detalhe: carnes comestíveis e carne humana, ainda que eu soe redundante posto que se come carne humana, de uma forma ou de outra. Os egípcios usavam o alho durante o processo de embalsamento de cadáveres. Nesse caso, se você é o que você come, você é o que você morre também. Não sei dizer se o fato é verdadeiro, mas, no túmulo do faraó Tutankamon foram encontrados seis dentes de alho e também em cemitérios pré-históricos consta que havia bulbos de alho moldados em argila. Em ambos os casos, a presença do alho serviria para afastar maus espíritos.
Sempre que se recorre à entrada de determinado ingrediente no Brasil, as informações são bastante imprecisas. Assim é também com o alho: consta que a hortaliça chegou com as caravelas de Pedro Alvares Cabral. Mas, para passar de planta de fundo de quintal à condição de cultura de grandes proporções, foram cinco longos séculos: o alho era cultivado apenas em pequenas quantidades. Depois, tornou-se lavoura intensiva, em larga escala.
Se o alho percorreu um longo caminho para popularizar-se em todo o mundo, uma vez tendo atingido as regiões - Sibéria, Egito, Índia, Grécia, Oriente Médio, China, Rússia e Europa -, tornou-se nobre. São poucas as cozinhas mundiais, atualmente, que dispensam o uso do alho como tempero de base.
O alho (Allium Sativum) pertence à mesma família da cebola e da cebolinha. O plantio é feito por bulbos (bulbilhos) ou pelos dentes. O bulbo é a chamada "cabeça", com dez ou 12 dentes cada. Claro que, assim como outras culturas, o alho tem as mais variadas espécies. Estima-se que hajam mais de 600 subespécies de alho em todo o mundo. As características de cada espécie ou subespécie são dadas pelo tamanho, forma, sabor, número de dentes por bulbo, acidez e capacidade de armazenamento.
Se o uso na gastronomia é ostensivo, o alho sempre esteve ligado, em igual medida, ao uso medicinal. Ao alho são atribuídas vastas propriedades terapêuticas, inclusive com poder de cura, segundo os especialistas.
Na cozinha, o alho pode ser usado das mais diversas formas: cru, refogado, picado, em rodelas, salteado, defumado, em conserva e qualquer outro uso que se possa imaginar. Vai bem com tudo: arroz, feijão, carnes, massas, peixes, aves. Não há limites para o uso do alho.
No entanto, o alho é como algumas pessoas: ou você as ama ou as odeia. Não há possibilidade de se gostar do alho pela metade. Uma curiosidade: enquanto na cozinha européia e outras prepara-se o refogado do casal cebola-alho na sequência cebola primeiro e alho depois, a autêntica cozinha brasileira determina que o alho é o primeiro a ser refogado e depois a cebola.
Experimente fazer isso no dia-a-dia com o arroz e o feijão. Garanto que você gostará do resultado final. O segredo está em refogar o alho em fogo brando o bastante para não queimá-lo até que se adicione a cebola.
E, se você duvida ainda que o alho combina com tudo, veja só: sorvete e drink à base de alho. Nos EUA, há um restaurante temático do alho, o The Stinking Rose (algo como "cheirando rosa", na tradução, em referência a 'stink rose', ou rosa fétida, que é uma das definições para o alho), que privilegia o uso da hortaliça nas produções.
E, claro, eu não poderia deixar de citar o uso do alho contra vampiros. Se eles existem? Desde que tenho assistido "True Blood", tenho torcido para levar uma mordida. Eu, fácil, fácil, nem usaria alho, pelo menos dessa vez.
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2 Responses to “A rosa fétida”
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O que seria da comida portuguesa sem o alho...quase tudo leva alho, pelo menos, aqui em casa. O meu pai até tem um livro do alho, tal é o amor pela "rosa fétida". Por isso, viva ao alho.
17 de março de 2009 às 21:35beijo
Ana
Ana, desconheço comida brasileira que não leve a indefectível combinação alho-cebola. O alho está irremediavelmente atrelado à cozinha mundial, eu creio. Que bom, desde que você não vá beijar ninguém logo depois das refeições. Beijo (sem alho!)!
18 de março de 2009 às 20:31Postar um comentário