Quantas abobrinhas dizemos por dia? Como se converte a palavra boba dita, a besteira, a piada sem nexo em vegetais como abobrinhas? Se diz das pessoas (e de si mesmo/a) que se está a falar abobrinhas quando dizemos coisas à toa, sem importância, que falta não fariam se não-ditas. As palavras são assim: saem fáceis, sem freios, molas e amortecedores. E quanto às abobrinhas, de fato?
A abobrinha (Cucurbita pepo), que tem um lindo nome afrancesado também - courgette - e outro em inglês - zucchini -, é um fruto. Sim! Da mesma família das melancias, melões, pepinos e morangas. E, claro, pertence ao mesmo gênero da abóbora. Ao contrário da maior parte dos frutos, colhem-se as abobrinhas quando verdes. Em idade tenra.
A abobrinha é nativa das Américas - entre o Peru e EUA, e dois tipos são bastante usuais no Brasil: a Menina, que tem pescoço, e a Italiana, sem pescoço. As cores variam um pouco: do verde claro, quase translúcido, ao verde com faixas mais escuras. Também podem ser quase amarelas. Mas não maduras porque abobrinhas são como palavras jogadas ao léu: se demorarem muito para fazer efeito, caem de maduras.
O vegetal apropriado para o consumo tem casca de cor brilhante, com cerca de 20 cm de comprimento. Quanto menores, mais tenras e saborosas são as abobrinhas. Uma dica: a abobrinha com cabo, aquele pequeno rabicó, dura mais tempo.
Assim como as palavras ventiladas ao acaso, sem um fim específico, as abobrinhas são bastante genéricas: podem ser adicionadas a pastas (macarrão), comidas puras, com algum tempero como alho, cebola, pimenta, cheiro verde, azeite, limão e vinagre.
Eu sou daquele tipo que, quando criança (e ainda um bocadinho agora) dizia: "não gosto", mesmo antes de experimentar. Eu costumava não gostar de abobrinha. Mas, agora que sou grandinho, descobri que basta preparar as abobrinhas (e as palavras) com carinho e amor. Temperar com aquele ingrediente secreto que você mais gosta. Com uma pequena lâmina de alho que reluz de tão fina. Com um azeite almiscarado com o toque que mais lhe agrada. Com o sal especial. Uma pimenta branca, ou do-reino, moída na hora.
E, importante: mantenha a casca. Corte em pequenos cubos ou em longas e filetadas varinhas. Mas mantenha a casca. Que tem sabor. Cor. A abobrinha pode ser salteada no azeite, comida com saladas frias, fazer bonito como suflê de abobrinha, ser frita à moda milanesa, ser recheada como se faz com a beringela, ser degustada com queijos, ovos e carnes.
Faça com a abobrinha o que deve ser feito com as palavras: trate-a com delicadeza. É um fruto sensível, colhido na mais tenra idade para propiciar prazer. Prazer que algumas palavras, quando ditas da melhor forma, também têm o dom de proporcionar. Não diga abobrinhas. Faça-as. Cuide dos frutos e das palavras. Gastronomia e gramática, unidas, são invencíveis.
Comments
3 Responses to “Estou cheio de abobrinhas!”
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Oww parabéns pelo blog, muito massa, divertido e interessante...
5 de maio de 2009 às 13:08virei seguidora!
;)
Cheila, tudo bem? obrigado pela visita, pelo elogio e por seguir o blog. Espero manter o nível para atender as expectativas. Beijo!
6 de maio de 2009 às 00:03heheh concordo plenamenmte e tenho um blog, que seu nome é dedicado a todos os tipos de abobrinhas!
23 de abril de 2010 às 12:23Postar um comentário