"Dize-me o que comes e te direi quem és."
"A mesa é o único lugar onde jamais nos entediamos durante a primeira hora."
"A descoberta de um novo manjar causa mais felicidade ao gênero humano que a descoberta de uma nova estrela."
"Uma sobremesa sem queijo é uma bela mulher a quem falta um olho." (sob a ótica do francês, claro)
"Quem recebe os amigos e não dá uma atenção pessoal à refeição que lhes é preparada não é digno de ter amigos."
Esses aforismos foram cunhados por Jean Anthelme Brillat-Savarin em 1825, quando publicou o livro "A Fisiologia do Gosto" (Physiologie do Goût) - Companhia das Letras - 379 páginas. Brillat-Savarin, que viveu entre 1755 e 1826, queria fundar a ciência da gastronomia. Não o conseguiu. Gastronomia pode ser muita coisa. Mas ciência não o é. No entanto, o autor não tinha ideia da dimensão que tomaria o livro. Já na época, "A Fisiologia" obteve sucesso. E tornou-se um clássico da gastronomia.
Brillat-Savarin foi muita coisa: advogado, juiz, prefeito, violinista, juiz da Suprema Corte de Napoleão e, sobretudo, um apaixonado pelos prazeres da mesa. O livro é maravilhoso, por inteiro. Combina o fascínio pelos fundamentos científicos com o goût (gosto) do autor pela anedota, de forma geral. Savarin é extremamente divertido em suas considerações.
O livro está dividido em meditações (são 30), transição e variedades. Entre algumas das meditações, estão temas como "Teoria da Fritura", "Dos Descansos de Caça", "Do Repouso", "Da Magreza" e outros tão divertidos quanto. Sobre "A Fisiologia" disse o escritor, ensaísta, filósofo e semiólogo francês Roland Barthes: "Trata-se de um livro paradoxal, pois o que se exprime pela elegância do estilo, do tom mundano das anedotas e da futilidade graciosa das descrições é a grande aventura do desejo."
Desejo que se expressa nas sensuais refeições, na comida de forma geral. Porque comer é um ato sensual, no estrito sentido de usar os cinco sentidos. E é sensual também no que tange ao sexual porque, de alguma forma filosófica, o ato de alimentar o corpo está relacionado ao ato de alimentar o espírito e o sexo não se furta a um nem ao outro. Comer é um prazer, é tudo. Não é por acaso que uma boa refeição sempre precede o ato sexual. Não é por acaso.
Só uma reclamação, que não tem nada a ver com o conteúdo do livro de Savarin: a minha edição (5ª. reimpressão da Cia. das Letras) tem algumas folhas enrugadas. O que eu não gosto, a propósito de goûts. Tenho com os livros uma relação simbiótica e me incomoda que estejam amassados, sujos ou com restos de acabamentos imprecisos. É uma coisa ranzinza, eu sei. Mas é questão de fisiologia de gosto também, não?
Outra coisa: por que cargas d'água as editoras não oferecem capas de livros com maior qualidade? Toda vez que eu escrevo sobre livros, encontro capas de má qualidade para estampar o post. Já tentei resolver isto à força de scanner, mas não deu certo. Observe a foto que estampa este post, por exemplo. Péssima! Mas são questões que extrapolam o objetivo desta seção. Ou não. Sei lá. Goût é goût e não se discute.
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