Feijão com arroz

terça-feira, 16 de dezembro de 2008


Vou me embora pra Passárgada comer do feijão e do arroz da minha mãe. Vou reencontrar o sabor de casa, da infância, de uma vida inteira.


Não quero saber da baixa, alta ou média gastronomia. Durante esses dias, serei apenas mais um que estará à mesa da velha e conhecida cozinha caseira, doméstica, com gosto familiar.

Assim, como eu disse no meu outro blog, entro em recesso e volto apenas em meados de janeiro. Desejo tudo de bom para você, neste, no próximo e nos demais anos que se seguem. Sugiro que visite o link da minha despedida e dos meus desejos para o final deste ano e começo do próximo. Beijo!

Ingá-cipó

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008


O ingá-cipó - ou ingá-de-mico, ingá-doce e ingazeiro - é o fruto da ingazeira. Em tupi, ingá é "embebido, empapado, ensopado". O fruto é uma espécie de vagem, com polpa aquosa, branca e adocicada.


A planta é típica da Floresta Amazônica e são conhecidas mais de 300 espécies do gênero Inga.


As árvores nascem às margens dos rios, em geral. Essas centenas de espécies de ingazeiras produzem, todas, frutos em vagens que podem atingir até 1 metro de comprimento. Os frutos variam entre 10 e 30 cm.


A polpa - sarcotesta - é a parte comestível e é levemente fibrosa e deve ser consumida ao natural. E é bastante apreciada tanto pelo homem quanto pelos bichos, quer dizer, no fim, por todos os animais, inclusos nós mesmos.

Saudade amarga feito jinjilo

domingo, 14 de dezembro de 2008


Do amargo ao doce, basta tentar e experimentar. Pois é! Existe doce de jiló. O jiló (Solanum gilo) é um fruto, e não um legume, como se imagina popularmente. E é um dos frutos mais amargos de que se tem notícia. Mas, tudo o que é amargo pode ser adocicado até se converter em algo suave (ou quase tudo, desde que se trate de não-humanos).


Volta-se, aqui, à questão da dicotomia da cozinha regional e universal: a eterna distensão entre o doce/amargo, ácido/suave, quente/frio, picante/leve. Todas as cozinhas do mundo se deparam - e trabalham - esses maniqueísmos inerentes aos alimentos de origem vegetal, animal e até mesmo mineral.


E isso, na minha opinião, é uma das graças e charme da cozinha. O poder de converter um alimento em outro, de abusar da natureza e converter o pré-conceito que se tem de um determinado alimento para reinventá-lo em outra dimensão desconhecida, e saborosa.


Não à toa, o cancioneiro Luiz Conzaga fez a relação entre as dores da saudade e a amargura do jiló:

Ai quem me dera voltar
Pros braços do meu xodó
Saudades assim faz doer
E amarga que nem jiló


O jiló, ou jinjilo, é de origem desconhecida - ao que parece, veio da África ou da Índia - e chegou ao Brasil no século XVII, por meio dos escravos que eram enviados para trabalhar nos canaviais de Pernambuco. Mas, há até teorias que defendem que o jiló pode mesmo ser nativo do Brasil, dada a sua abundância no País.

O fruto pode ser consumido de diversas formas: conserva (salgada), à milanesa (já num processo de miscigenação com a cozinha italiana), compota (doce, como figo, por exemplo), recheado com carne moída (como a beringela), e até como tira-gosto para acompanhar bebidas alcóolicas (o jiló, nesse caso, pode ser servido como a própria beringela também, em conserva).


O fato é que há algum preconceito por esse fruto (inclusive, mea culpa, de minha parte). Mas, ao se descobrir as variáveis que um ingrediente pode oferecer, fica difícil resistir à tentação de 'domar' o respectivo alimento ao nosso bel-prazer. Vou tentar fazer uma compota de jiló, eu que sou um viciado em doces.

Doce de ar-ruzz

sábado, 13 de dezembro de 2008


Como tenho uma leitora assídua do outro lado do Atlântico, nada mais justo do que adoçar nosso contato com algo bem típico e simples, acessível aos dois países. É o arroz-doce, vindo diretamente de Portugal, e que, em algumas regiões do Brasil, é chamado de arroz-de-leite.

Na maior parte das vezes, o arroz-doce é cozido no leite. Mas, a depender do orçamento, também pode ser cozido na água. No Nordeste - arroz-de-leite - é cozido com leite e sal.

O doce, para ser mais completo, deve levar arroz, leite, açúcar, gemas, casca de limão, canela (em pedaços e em pó) e um tiquinho de sal, que é para dar equilíbrio.


Quando faço arroz-doce, costumo fazer uma semi-calda de açúcar, o que deixa o doce com aspecto de creme e com um fundo de caramelo.

Tipicamente português, o arroz-doce era usado pelas noivas portuguesas (estou certo?) que costumavam levar o prato para a casa dos convidados em uma cesta de vime, para simbolizar o convite para o casamento. A cesta era, depois, devolvida com algum presente.


Essa troca - escambo - ocorre muito no interior de São Paulo e até mesmo aqui em São Paulo é de bom tom, quando você recebe algum presente relacionado a comida, devolver o mesmo recipiente com outro alimento. Eu mesmo já fiz isso algumas vezes.

Antes, eu achava que a troca de alimentos estava restrita a algumas culturas, mas, depois, confirmei que é quase universal esse leva-e-trás de comidas. Posso soar antiquado, mas, eu gosto assim.


De qualquer forma, o arroz-doce é muito antigo e, antes mesmo de Portugal, há registros árabes do uso do arroz como ingrediente para o doce. O arroz (ar-ruzz, em árabe) chegou à Península Ibérica pelas mãos dos árabes, no século VIII. Há referências ao arroz-doce em textos árabes já em 1162 - "Tratado dos Alimentos", de Abu Marwan Zuhr (em Sevilha, Espanha). Outros manuscritos apontam a existência, no século XIII, de receitas de "Arroz com Mel". 

Lá vem o pato ...

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008


Lá vem o pato, pato aqui, pato acolá, lá vem o pato para ver o que é que há!!! O Pato no Tucupi, o mais famoso prato do Pará, região Norte do Brasil, é uma produção que me intriga. O pato é um dos mais famosos ingredientes da cozinha francesa (Magret de Canard) e da cozinha chinesa (Pato Pequinês). Pois também o é no Brasil, via cozinha paraense.


Mas, o que tem a ver a pato, em geral, com o brasileiro? Muito pouco, na verdade. O consumo de carne de pato no Brasil é baixíssimo - cerca de 20 gramas anuais, ante 1 Kg na China e 450 gramas nos EUA - e, em São Paulo, o pato custa três vezes mais do que o frango.

O Pato de Pequim é, em São Paulo, mais popular do que o Pato no Tucupi e, claro, custa mais: enquanto o Pato no Tucupi custa, em média, R$ 50, o Pato de Pequim não sai por menos de R$ 120. É a eterna dicotomia da cozinha brasileira: ir lá fora buscar o que se tem aqui de forma muito mais rica.


O Pato no Tucupi talvez seja, ainda mais do que a Feijoada, o prato que melhor representa o Brasil na gastronomia mundial: aglutina em si o terroir brasileiro, típico, indígena. Mais autêntico do que isso, é quase impossível. O preparo e a elaboração do Pato no Tucupi, basicamente, são diretamente herdados dos índios. Os ingredientes são nativos: folhas de chicória (é um tempero verde nativo da Amazônia, diferente da verdura de mesmo nome conhecida nas regiões Sul e Sudeste), o tucupi (sobre o qual este blog fez um post específico), alho, alfavaca (outro post específico aqui), jambu (que causa dormência nos lábios) e pimenta-do-cheiro. E, claro, o pato (que, este ano, faltou para a Festa do Círio de Nazaré de Belém).


Os especialistas das cozinhas regionais do Pará, como o chef Paulo Martins, dizem que o prato deve começar a ser preparado um dia antes de ser servido. A melhor carne da ave vem daqueles patos criados em confinamento, específicos para abate (tal qual na França e na China). O tucupi deve ser legítimo, de procedência conhecida (no mercado Ver-o-Peso, de Belém, é comum encontrar o tucupi em garrafas descartáveis de refrigerante).

O pato foi uma das primeiras aves domesticadas pelos índios na região e o tucupi é uma criação indígena, cujo preparo mais autêntico prevê, inclusive, o uso de equipamentos e vasilhames especialmente desenvolvidos para a obtenção desse caldo.


Eu creio que o valor do Pato no Tucupi está relegado. Por uma série de motivos. Por que pedir magret de canard (peito de pato), e não pato no tucupi em São Paulo? Por que investigar o pato laqueado da China ao invés de fazer o beiço adormecer com as folhas de jambu? É preconceito ou desconhecimento? Ainda estou para descobrir o que faz com que o comensal prefira fazer uma viagem intercontinental pelo cardápio ao invés de fazer escala nas demais regiões brasileiras. Há um jet lag gastronômico brasileiro que precisa ser melhor avaliado.

Me dá uma bofetada!

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008


Bofetada, sopapo ou chute forte são os significados em tupi para a pitomba (Eugenia luschnathiana). A pitomba é uma fruta tropical, típica da Bahia, e pertence à família da jabuticaba.


Assim como a jabuticaba, a pitomba tem formato arredondado, casca dura e a cor é marrom-clara. A fruta tem dois caroços no interior, recobertos por polpa branca.


A pitombeira é árvore nativa tanto da Amazônia quanto da Mata Atlântica e, portanto, é possível encontrar a fruta no Nordeste, Sudeste e Norte do Brasil, em estado silvestre. Os frutos são comestíveis ao natural e, em geral, a pitomba tem dois caroços. A polpa comestível é fina e suculenta, adocicada e levemente ácida. Madura, a pitomba fica alaranjada.


Em algumas regiões, a pitomba é chamada de caruiri e também de olho-de-boi, pitomba-da-mata e pitomba-de-macaco. A referência ao bicho é porque, nos habitats naturais da pitomba e da fauna nativa, a pitomba é apreciada pelos animais.


Em geral, a pitomba é consumida apenas ao natural. Em Jaboatão dos Guararapes (PE), há a tradicional Festa da Pitomba, com mais de 350 anos, que acontece anualmente dez dias depois da Semana Santa. A festa tem conotação religiosa e celebra, também, a safra da pitomba.

Sempre cabe mais um

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008


O que faz a diferença entre uma cultura e outra, gastronomia inclusa? Como País, oficialmente, o Brasil tem 508 anos. Somos, ante as culturas medievais e anteriores, portanto, novíssimo mundo. Somos um caldeirão efervescente em que borbulham o caldo do mundo, os temperos que aqui encontraram solo fértil e ingredientes nativos e outros que atravessaram os oceanos e hoje estão aí, completamente integrados ao que se convenciona chamar de cozinha brasileira.


O que é a cozinha brasileira senão um amálgama de todas as influências e origens? O fundo de que se compõe a base de nossas panelas é formado por um tripé: indígena, africano e português. Essas três culturas, raças e equidistantes nações cristalizaram a gastronomia brasileira de tal forma que, a não ser que se vasculhe as despensas das antigas casas, já não é tão fácil distinguir quem influenciou quem.

A intersecção de três povos criou uma cozinha multicultural que definiu a cor base, o acento do tempero e o gosto médio brasileiro: o arroz, o feijão, a carne e a salada pintam os pratos de branco, marrom (ou preto), vermelho e verde. Estão aí os portugueses com o vermelho e verde da bandeira portuguesa, os índios com o amarelo da farinha de milho e os negros com a cor terrosa do feijão.


Essa mistura que, na cozinha, tem similaridade com o multiprocessador ou o mixer, nunca parou, de fato. Somos um dos países do mundo em que mais se acolhe o imigrante estrangeiro. Esse fato fez com que os desdobramentos da cozinha típica nunca estancassem em si mesmos. Somos, ao fim e ao cabo, feito uma cebola em que cada camada revela uma nova face, um novo cheiro e um descobrir constante de que nem sempre 2 + 2 é igual a 4.


As cinco regiões brasileiras - Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste - refletem diretamente essa escalada de raças e de culturas. O caldeirão brasileiro nunca foi pequeno demais para impedir que novos ingredientes fossem colocados à mesa. No Norte, onde ainda se mantém uma tradição fortemente influenciada pelos indígenas, predominam as frutas, os peixes e a mandioca. No Pará, há uma grande colônia japonesa (pimenta-do-reino) e árabe/turca (com todas as correspondências gastronômicas possíveis). 

No Nordeste, há um uso intensivo do coco (vindo da Índia), do azeite-de-dendê, feijão, macaxeira (ou mandioca), os doces de Pernambuco como o alfenim (Portugal), peixes e frutos do mar e, claro, a peculiar culinária baiana.O ciclo da cana-de-açúcar, aliás, influenciou muito a região - Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte, Alagoas.


Na região Centro-Oeste, muito boi (Mato Grosso) e muito consumo de carne. Consumo de chá mate. Pratos de caça (Pantanal). E frutas do cerrado, como o pequi. No Sudeste, intensa influência de imigrantes estrangeiros. São Paulo ainda recebe fluxos constantes de imigrantes de várias partes do mundo. Mais recentemente, pode-se registrar na cidade a vinda de chineses e de iraquianos, em fuga do conflito e da derrocada pós-Sadam Russein. O Rio de Janeiro tem uma forte tradição portuguesa na base da gastronomia local. São Paulo é eclética: do Vietnã ao Marrocos, é possível encontrar praticamente todas as gastronomias mundiais.


Por fim, o Sul recebeu influência alemã e de outros povos eslavos. Come-se em algumas cidades de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul e do Paraná como se estivéssemos em Berlim ou em Frankfurt. Além da Polônia, Eslovênia, Hungria, Bulgária e outros países.

Afinal, somos, portanto, um caldeirão. Forrado de bagagem alheia e própria. Capazes de elaborar espessos caldos tanto são os caldos culturais que agregam, um a um, a gastronomia brasileira. Que riqueza! Que envergadura tem esse caldeirão!

Abiu

terça-feira, 9 de dezembro de 2008


A abiu (Lucuma caimito) é uma fruta típica da Amazônia. No entanto, é bastante adaptada ao Brasil inteiro e é possível encontrar abieiros desde o Oiapoque (AP) até Santos (SP). A fruta é conhecida pelos nomes de abiu, abiurana, abi e abieiro.


O formato da abiu muda conforme a variedade da fruta e, portanto, os frutos podem ser redondos, ovais e alongados. No tamanho, são comparáveis a ovos de galinha ou de pata. A superfície é lisa e contém polpa gelatinosa, branca ou amarela, ora doce, ora sem sabor e, mais raramente, muito doce. 


A polpa pode ser consumida ao natural ou ser transformada em geléia, suco ou doce.


Ao natural, a abiu deve ser consumida quando estiver bem amarela. Se não estiver no ponto, a fruta costuma liberar uma substância viscosa e grudenta que é de sabor desagradável.


O abieiro começa a frutificar aos três anos de idade e chegar a produzir de 250 a 1 mil frutas a cada ano. A árvore se dá muito bem em locais que não estão sujeitos a geadas durante o inverno. Nas regiões Norte, Centro-Oeste, Nordeste e Sudeste, há uma grande presença do abueiro. No entanto, a produção é apenas doméstica, de quintais e pomares.


Chico Balanceado ou Manezinho Araújo?

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008


Em toda pesquisa, o Chico Balanceado desponta como típica iguaria gaúcha. Mas, Santa Catarina e Paraná também disputam o doce. Na outra ponta do País, em Pernambuco, o doce tem o nome de Manezinho Araújo e, portanto, as regiões Sul e Nordeste se conectam por meio de um doce caminho de creme de ovos e açúcar.


(Chico Balanceado)

Afinal, qual é a origem do Chico/Manezinho? E qual foi o primeiro estado a eleger o doce como sobremesa? Em definitivo, preciso de livros históricos sobre a gastronomia brasileira. Tenho encontrado dificuldades em preencher os vazios que o Google não me responde quando perguntado.


(Manezinho Araújo)

Ou, por outro lado, chegarei à conclusão mais simples: no Brasil, como já disse anteriormente no outro blog, não temos registros precisos sobre a comida do passado e do presente. Não há codificação e, portanto, a evolução gastronômica se perde entre as antigas casas de fazenda, moendas, casas-grandes, roçados, senzalas, macombos e por aí vai.


(Chico Balanceado)

Antigamente, a tradição era oral: a avó ensinava a mãe, que passava para a filha, que reproduzia para a neta. As nossas bisavós, na maior parte, eram analfabetas e, portanto, não tinham a menor condição de registrar as receitas.


(Manezinho Araújo)

As histórias perderam-se. A tradição oral acabou. Um e outro detém algum conhecimento e é tudo. Ou se pesquisa decentemente ou não se tem nada, a não ser incertezas. Portanto, esse post fica em aberto. Pelo link a seguir, remeto à receita do Chico Balanceado ou Manezinho Araújo.

Taioba

domingo, 7 de dezembro de 2008


A taioba (Xanthosoma sagittifolium) é desconhecida. Era até este momento para mim. Incrível como não se conhece o que se tem quase no quintal, não é? A planta é um tipo de verdura, uma variedade do inhame que pode ser consumida após o cozimento. Pode ser taiá ou taiova, ainda assim estranha.


A associação mais próxima é com a couve. Tem origem milenar na China e no Egito. Tem folhas maiores, mais largas e mais vistosas, no entanto, do que a couve. A taioba tem mais vitamina C do que a cenoura, o brócolis e o espinafre.


Eu falei em quintal antes porque a taioba pode ser cultivada assim como se planta o alface, a salsa ou a cebolinha. Para preparar taioba, haja como se fosse couve: lave, pique e refogue com cebola. É ótima para acompanhar o feijão e o arroz do dia-a-dia. Só não confunda com a taioba-brava (Colocasia antiquorum), ou cocó, taió ou tajá. Essa é venenosa e intoxica.


Com taioba se faz salada, bolinho, pizza ou lasanha. Se faz creme de taioba, como se faz com espinafre. Da taioba, como de outros casos já citados neste blog, se aproveita tudo: o tubérculo, as folhas e as hastes. Nós, brasileiros, temos o costume de jogar fora algumas partes dos alimentos: da batata, desprezamos a casca, da couve, os talos, e assim por diante. Besteira! Conheci uma senhora que não enviava nada ao lixo. Aproveitava tudo. As plantas são sagradas também no preparo das refeições. A taioba é uma estranha ainda para mim. Não fomos apresentados um ao outro. Mas, já sei que dá para fazer arroz e torta de taioba.


Tem umas folhagens aqui em casa que até mesmo parecem taioba. Por que não cultivar uma planta dessas em casa e fazer uma salada fresca, direto da horta? Dizem que a taioba sumiu. Viva a taioba!

Barreado de alegria

sábado, 6 de dezembro de 2008


Diz-se do Barreado que é o único prato típico do Paraná. Na minha estante gastronômica, há duas importantes lacunas: "História da Alimentação no Brasil" e "Antologia da Alimentação no Brasil", ambos de Luís da Câmara Cascudo, livros os quais, certamente, devem esclarecer vários pontos sobre os quais tenho dúvidas no que concerne às origens de pratos e ingredientes da cozinha brasileira.


Segundo o folclore paranaense, o Barreado é um prato-símbolo de fartura, de festa e de alegria. A palavra "barreado" vem da expressão "barrear a panela", ou seja, a panela é vedada com um pirão, que pode ser de cinza ou mandioca, para evitar que o vapor escape e o cozido não seque depressa demais. A origem do "Barreado" é disputada no litoral do Paraná entre as localidades de Morretes, Paranaguá e Antonina (antiga Capela). O que se sabe é que o método de barrear é usado na região há mais de 200 anos.


Outra vertente defende que a receita do Barreado veio dos índios. Os pratos eram servidos aos caiçaras nas vilas onde se negociavam produtos. Em Paranaguá, outra teoria assegura que o Barreado era comida de tropeiros. Finalmente, há outra indicação de que o prato descende dos açorianos, que o produzem há mais de 300 anos.


Não importa a origem, contudo. O Barreado tem, entre suas características, a propriedade de manter suas qualidades sápicas intactas quando requentado. Por isso, pode ser guardado para depois ser servido, sem que perca o sabor. O preparo do prato deve ser feito da seguinte forma: corta-se a carne - que pode ser peito, patinho ou coxão-mole - em pedaços pequenos, em cubinhos de 3 a 4 cm, e o toucinho em quadradinhos de 1 a 2 cm e, com os temperos, exceto a pimenta vermelha, coloca-se a carne e o toucinho na panela de barro. Tampa-se essa panela com uma folha de bananeira previamente sapecada no fogo e se amarra a folha na boca da panela. Outra versão, mais autêntica, pede que a panela seja vedada (barreada) com uma mistura de farinha de mandioca, cinza e água quente. Deve-se cozinhar a carne por cerca de 12 horas (alguns falam em 24 horas), em fogo brando.


Segundo os especialistas em Barreado, o segredo do prato está justamente nesse cozimento lento. Após as 12 horas, quebra-se o "lacre" e verifica-se o ponto de sal. Nesse momento, deve ser acrescentado o molho de pimenta vermelha. Para servir o Barreado, coloca-se farinha de mandioca no prato e o Barreado por cima, como um pirão. Acompanham o prato a banana, a laranja e o arroz.


A banana tem a propriedade de completar o sabor do prato e também a cachaça de banana pode ser servida como aperitivo ao Barreado. Por fim, existe a versão do Barreado em bolinho. É um bolinho recheado com banana amassada e com o Barreado. Uma iniciação ao Barreado pode ser feita na Casa do Barreado, em Paranaguá. Basta seguir este link ou ir até lá.

Coma uma bola de fogo

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008


Da junção das palavras africanas àkàrà (bola de fogo) e je (comer), nasceu, no Brasil, a palavra acara-je (comer bola de fogo) que, abrasileirada, tornou-se acarajé, um dos quitutes mais típicos existentes na Bahia.


O acarajé é feito de massa de feijão-fradinho, cebola e sal e é frito em azeite-de-dendê. Quando servido, deve ser acompanhado de pimenta, camarão seco, vatapá, caruru e salada. Nas vezes em que estive em Salvador, jamais me esqueci de comer acarajé. Típico, apimentado, bem cheio de recheio. Delícia!


No ritual do candomblé, o acarajé é comida da orixá Insã. Na mitologia Yoruba, Insã é Oyá (e também Oya-Yánsàn), que é a senhora dos ventos, raios e tempestades. O elemento de Oyá é o fogo e o metal é cobre. O culto da orixá está associado à morte e aos ancestrais: Oyá sabe lidar com os eguns e é quem os encaminha. Iansã foi esposa de Ogum e também uma das três mulheres de Xangô. E divide com Xangô a propriedade de soltar fogo pela boca e, ainda, o acompanha nas batalhas. A origem do acarajé explica-se pelo mito sobre a relação de Xangô com as suas esposas - Oxum e Iansã. O quitute é uma oferenda a esses três orixás.


Até mesmo na comercialização banal, o acarajé não perde, para as baianas, a conotação de sagrado. Por esse motivo, a receita, embora não seja secreta, não pode ser modificada e, conforme o ritual, deve ser preparada apenas pelos filhos-de-santo.

Para se fazer o acarajé, o feijão-fradinho deve ser quebrado em um moinho em pedaços grandes e ser colocada de molho na água para soltar a casca. Depois disso, passa-se o feijão novamente pelo moinho, até se obter uma massa bastante fina. A essa massa acrescenta-se cebola ralada e uma pitada de sal.


Segundo as baianas, o segredo para que o acarajé fique macio está no tempo gasto para bater a massa. O ponto correto da massa é quando adquire a consistência de espuma. Ao fritar o acarajé, deve-se usar uma panela funda com bastante azeite-de-dendê. Novamente, há uma maneira correta de se fritar o quitute: usam-se duas colheres, uma para pegar a massa e outra, de madeira, para moldar o acarajé. E, claro, azeite fervente. O primeiro acarajé frito é oferecido a Exu, que, no candomblé, tem primazia. Os demais são fritados e oferecidos aos orixás para os quais se destinam.


Na Bahia, o acarajé é um dos principais produtos vendidos nos tabuleiros das baianas. Esses acarajés diferenciam-se em relação aos acarajés dos orixás no tempero e no sabor. A forma de preparo é a mesma. O que muda é a maneira de se servi-los: o acarajé pode ser cortado ao meio e recheado com vatapá, caruru, camarão refogado, pimenta e salada de tomate verde, vermelho e coentro.

O quitute mais famoso da Bahia é semelhante a um outro prato típico baiano, o abará. A diferença está na cocção: enquanto o acarajé é frito, o abará é cozido no vapor.

Folhas atreveram

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008


O título deste post não está errado. O nome do arbusto, ou melhor, do subarbusto, é alfavaca (Ocimum selloi), também chamada de atreveram, alfavaca-paregórico e alfavaca-cheiro-de-anis. A alfavaca é uma planta cujas variedades podem ter folhas lisas, crespas, verdes, roxas, com ou sem manchas e de diferentes tamanhos.


E, veja só, é originária das regiões Sul e Sudeste do Brasil. Não se deve confundir com a Ocimum basilicum, que é outra variedade da espécie. Para uso na gastronomia, a atreveram (fica estranho assim) pode ser usada como condimento para melhorar o sabor de molhos, de sopas, carnes e outros pratos. A alfavaca rende um ótimo chá (em casa, no interior, sempre tivemos alfavaca no quintal) e é um aromatizante bastante usado na indústria de bebidas. Pode-se colocar folhas de alfavaca (e flores, se desejar) para temperar massas, pizzas, salada de tomate, peixes, ovos e cogumelos.


O gênero Ocimum tem cerca de 30 espécies, na verdade. E o subgênero Ocimum selloi é a planta nativa do Brasil. Popularmente, a espécie é conhecida como elixir-paregórico, o que explica, em definitivo, o título do post: a planta é usada de forma medicinal para o combate às cólicas. Mais ainda: em São Paulo, é chamada precisamente de atroveran, exatamente como o remédio sinônimo para cólicas femininas. Em Minas Gerais, chama-se a alfavaca de alfavaquinha ou anis.


Um pouco mais e esse blog se converte em laboratório de ervas medicinais. Mas, ou muito me engano, ou todas as ervas são benéficas e, quase sempre, embutem propriedades medicinais.