A rede Graal de postos de gasolina adquiriu e transformou o antigo posto Kafé (rodovia SP-225, Km 316) numa verdadeira estação cultural, um antigo passeio ao universo ferroviário. Em setembro do ano passado, foi inaugurado no local o Trem Histórico Cultural - Maria Fumaça.
A empresa instalou uma mini-ferrovia por onde trafega a locomotiva à vapor (da empresa inglesa Kerr Stuart, fabricada em 1907), vinda da Usina Serra Grande, de Alagoas.
O local reproduz a antiga estação ferroviária de Santa Cruz do Rio Pardo, município onde está sediado o posto. O objetivo da rede Graal é resgatar a história do ramal ferroviário de Santa Cruz, inaugurado em 1908, e que funcionou conectado à Estrada de Ferro Sorocabana até 1966. A estação de Santa Cruz do Rio Pardo era a porta de entrada e de saída de pessoas, mercadorias e cargas de toda a região.
Por motivos particulares, minha irmã e eu passamos pelo Posto Kafé um pouco antes do Natal. Tomamos apenas um café. Mas, descobrimos que existe, no local, uma série de atrativos: comida caseira típica, inclusive com cardápio bastante regional do interior de São Paulo; uma infinidade de itens antigos que podem ser adquiridos - de máquinas de datilografia a velhas malas de viagem e máquinas de costura; souvenirs; grandes estátuas de todos os tipos; e aquela trecaiada com a qual costumamos todos nos encantar (e, às vezes, levar para casa).
Você deve se perguntar por que abordo esse tipo de assunto por aqui. Afinal, este é um blog sobre ingredientes locais, não? Pois bem! Na minha opinião, o terreiro (ou, como queira, terroir) é formado pelo trinômio homem-terra-contexto. E esse contexto, do Posto Kafé, é altamente característico da cozinha paulista, seja vinda por meio da antiga ferrovia, seja resultante da própria região.
Portanto, o fato de um posto de gasolina de beira de estrada ser tema de um post neste blog que se pretende um Manifesto pelo ingrediente local, na minha opinião, complementa as informações culturais que levam, sempre, à cozinha.
O que se come, inclusive num posto de beira de estrada, é fruto de convergências, de migrações de pessoas e de alimentos. Com o quê, encontrar um local como esse, à beira de uma estrada estadual, ainda que seja revestido de uma cultura de massa - interesse da empresa gestora no consumo e na divulgação da marca -, é, ainda assim, animador.
Se é autêntico e legítimo? Afirmo que é, na medida em que a empresa, de alguma forma, consegue atrair atenção e pausa para reflexão de um passado regional que foi mais rico do que a época presente. E a comida paulista, afinal, trafegava em lombos de mulas na era dos bandeirantes, não é? Então, sim, creio que cabe assinalar pontos de interesse como esse que, no final das contas, sempre remeterão à cultura e, necessariamente, passarão pela cozinha.